Sobre

Observatório Educação Vigiada é uma iniciativa de divulgacao científica de pesquisadores acadêmicos e de organizações sociais que tem como objetivo coletar e divulgar informações sobre a plataformização da educação pública no Brasil e na América do Sul e incentivar um debate na sociedade em relação aos seus impactos sociais e educacionais. É uma ação da Iniciativa Educação Aberta.

O crescimento na oferta de serviços e softwares informacionais às instituições públicas de ensino de forma “gratuita” pelas maiores empresas de tecnologia de dados do mundo – representados aqui pelo acrônimo GAFAM (Google, Apple, Facebook, Amazon, Microsoft) – tem em grande parte, como contrapartidas, a coleta, o tratamento, a utilização e a comercialização de dados comportamentais de seus usuários. Trata-se de uma relação obscura e que leva a um grande potencial de violação da privacidade de alunos, professores, gestores e outros atores escolares.

Esse obscurecimento das relações entre essas empresas e seus usuários reflete em uma grande assimetria em relação ao vetor da coleta de dados. As grandes empresas de dados têm, potencialmente, acesso a uma grande quantidade de dados de instituições públicas — desde dados pessoais de alunos (incluindo crianças e adolescentes), professores e funcionários, dados comportamentais extraídos de aplicativos educacionais, dados de rendimento escolar dos alunos e professores — até dados de comunicação institucional e de pesquisa. Por outro lado, pouco sabemos sobre a atuação e dos processos desse modelo de negócio.

Essa escassez de informações sobre a atuação das grandes empresas de tecnologia - em especial aquelas que se valorizam através da coleta, tratamento e comercialização dos dados dos usuários de suas plataformas e serviços digitais - na oferta de tecnologias educacionais e espaço em data centers às instituições públicas, dificulta os esforços de pesquisa, a discussão pública sobre os riscos e as decisões dos gestores sobre o futuro das tecnologias em suas redes e instituições.

Para solucionar esse problema, criamos um software capaz de identificar o local de armazenamento dos e-mails oficiais de instituições públicas de ensino e, assim, podemos dimensionar e mapear os acordos realizados entre elas e estas empresas de tecnologia. Para completar a análise, validamos os resultados com informações de requisições de informação via Lei de Acesso à Informação para afirmarmos que eles apontam para acordos de utilização dos softwares educacionais das empresas.

Histórico do Projeto

Nossas pesquisas sobre a plataformização da educação pública e sua relação com o mercado de dados tiveram início em 2016, ainda como pesquisadores do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor/Unicamp) e do Núcleo de Informática Aplicada à Educação (NIED-Unicamp).

Em 2018, começamos a discutir as possibilidades metodológicas de coleta de dados sobre a atuação das grandes plataformas educacionais no país, que resultou na produção do script e na publicação do artigo "Coletando dados sobre o Capitalismo de Vigilância nas instituições públicas do ensino superior do Brasil" no VI Simpósio Internacional LAVITS.

Em 2019, com auxílio da Fundação Derechos Digitales, coletamos dados de 244 domínios de e-mail das instituições públicas de ensino superior e secretarias de educação estaduais no Brasil.

Em 2020, com verba interna da Iniciativa Educação Aberta, mapeamos cidades com mais de 500.000 habitantes no Brasil.

Já em 2021, com auxílio da Rede Latino-Americana de Estudos sobre Vigilância, Tecnologia e Sociedade (LAVITS) e em cooperação com pesquisadores da Fundación InternetBolívia.org, do Grupo de Investigaciónen Ingeniería de Software y Nuevas Tecnologías – GISNET-FUTCO – Colômbia e da Cátedra da Unesco para a Educação Aberta da Universidade da República do Uruguai, mapeamos 550 domínios institucionais de e-mail de 448 instituições públicas de ensino superior em todos os países da América do Sul.